Resenha: Todo Dia por David Levithan

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Sinopse: Neste novo romance, David Levithan leva a criatividade a outro patamar. Seu protagonista, A, acorda todo dia em um corpo diferente. Não importa o lugar, o gênero ou a personalidade, A precisa se adaptar ao novo corpo, mesmo que só por um dia. Depois de 16 anos vivendo assim, A já aprendeu a seguir as próprias regras: nunca interferir, nem se envolver. Até que uma manhã acorda no corpo de Justin e conhece sua namorada, Rhiannon. A partir desse momento, todas as suas prioridades mudam, e, conforme se envolvem mais, lutando para se reencontrar a cada 24 horas, A e Rhiannon precisam questionar tudo em nome do amor.
Título: Todo Dia
Autor(a): David Levithan
Páginas: 280
Editora: Galera Record
Avaliação: 5/5 

Desde que vi a sinopse do livro pela primeira vez fiquei curiosa, porque, querendo ou mão, a premissa é muito instigante e original. De lá até o anuncio da publicação do livro aqui no Brasil eu tive o meu primeiro contato com a escrita do David Levithan em Will &Will, o que acabou só aumentando minhas expectativas. Posso dizer que o livro não me decepcionou em nenhum momento, mas o que aconteceu foi que, surpreendentemente, o que eu mais gostei não foi o fato do personagem acordar cada dia em um corpo, mas sim a forma como o autor usou isso para cutucar tabus e preconceitos.


A nunca soube o que é ter uma família, amigos ou uma rotina já que, durante seus 16 anos de vida, ele acorda cada dia em um corpo diferente. Não importa o sexo, as crenças, a realidade social ou a situação psicológica, desde que a pessoa tenha a mesma idade que A, ele pode acabar habitando o copo dela por um dia. Depois de desistir de tentar entender os porquês e os comos, A aceitou as condições da sua existência e tenta viver seus dias com uma regra simples de interferir o mínimo possível na vida daqueles que habita. Porém um dia ela acaba acordando no corpo de Justin e conhecendo sua namorada, Rhiannon. Sem razão aparente A acaba se envolvendo e se encantando pela garota, tanto que ele cogita a ideia de quebrar suas regras para reencontrá-la todo dia e até mesmo contar a verdade que nunca disse a ninguém.


Antes de tudo é importante dizer que A é um personagem sem sexo definido, a editora teve que escolher um gênero porque na língua portuguesa se precisa usar um artigo definido e acabaram optando pelo masculino. Porém fica muito visível durante a leitura que além de não ter uma forma, um corpo, definido ele também não pode ser classificado como homem ou mulher e isso é essencial para a mensagem que o David Levithan quer passar com sua estória. 

O A conviveu e vivenciou com todos os tipos de diferenças, fazendo ele ter uma mente aberta e livre de muitos preconceitos. Ele, mais do que ninguém, vê o corpo como uma casca, as crenças como fruto do meio onde vivemos e das pessoas que nos cercam e que, no fundo, todos somos, antes de qualquer coisa, seres humanos. Durante o livro o A é um viciado em drogas, uma garota em depressão, um obeso, uma lésbica, um gay, um religioso, uma trabalhadora infantil e diversas outras pessoas. O autor não se aprofunda em cada caso e nem acho que esse era o objetivo dele, o que o David Levithan faz é dar aquela cutucada na nossa consciência, plantar uma semente de questionamento, mostrar um pouco do preconceito, das diferenças, mas, principalmente, das semelhanças.
Uma coisa legal de se perceber é que, mesmo o A convivendo com todas essas diferenças, ele não está livre de todos preconceitos e estereótipos, ele é humano afinal. (Ou pelo menos tem sentimentos e a consciência de um.)


Torci o nariz por essa relação entre o A e a Rhiannon antes de começar a leitura por achar desnecessário, porém, mais uma vez, eu estava errada. Mesmo não entendo o que ele viu de tão especial na Rhiannon, o amor que nasce deles é, talvez, a mensagem mais bonita do livro: que o amor é mais forte que as mais absurdas dificuldades, supera preconceitos e aparências

O final desse livro foi um dos mais sinceros que eu já tive a oportunidade de ler, foi abrupto sim, mas chocante acima de tudo. Fiquei com raiva no começo, mas depois que você digere tudo, não tem como não admirar ainda mais o A como personagem e a estória em si. 


Apesar de todo o mistério por trás da existência do A ser a grande novidade e o grande atrativo do livro, ele não é o enfoque do enredo. O autor até questiona um pouco sobre isso durante a estória, levanta algumas hipóteses, mas não se aprofunda e nem dá uma explicação. Isso não me incomodou como a maioria porque acho que, desde o começo, entendi que a intenção dele não era essa, vejo isso tudo como a forma que ele encontrou para desenvolver os outros elementos da estória



A narrativa do David Levithan é incrível, é carregada de uma leveza e sentimentalidade que mesmo as situações mais pesadas acabam parecendo poéticas e doces. Cada capítulo conta um dia da vida de A e tem uma dinâmica deliciosa, a leitura flui super bem, prende o leitor e o instiga a não parar de ler. 



Ler Todo Dia é como se apaixonar, ele pega o leitor desprevenido, encanta, emociona, diverte e mexe lá no fundo com as suas emoções. Acho que não tem comparação melhor com o que senti durante a leitura do que essa, o que eu senti foi perturbador e doce ao mesmo tempo, um sentimento agridoce que durou até muito depois de ter terminado. 

David Levithan fez um livro universal, que fala muito sobre o que é ser humano, a banalidade e a importância de cada pessoa, as diferenças e as semelhanças que compartilhamos com todo mundo, sem exceção. E, acima de tudo, o fechou com uma redenção tamanha do seu protagonista que acho que a maior lição de todas que o livro deixou foi a sua coragem. 
Se tem uma coisa que aprendi, é isso: todos nós queremos que tudo fique bem. Nem mesmo desejamos que as coisas sejam fantásticas, maravilhosas ou extraordinárias. Satisfeitos, aceitamos o bem, porque, na maior parte do tempo, bem é o suficiente. 

Na minha experiência, desejo é desejo, amor é amor. Nunca me apaixonei por um gênero. Apaixonei-me por indivíduos. Sei que é difícil as pessoas fazerem isso, mas não entendo por que é tão complicado, quando é tão óbvio.
Queria que o amor conquistasse tudo. Mas o amor não conquista tudo. Ele não pode fazer nada sozinho. Ele depende de nós para conquistar em seu nome.

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4 comentários

  1. Eu amei esse livro!!!! Foi o melhor do ano até o momento pra mim!
    Me emocionei demais com a essência da história....... terminei o livro em lágrimas e com o coração apertado !
    Os quotes desse livro são tantos que fica difícil escolher .....cada um com uma mensagem mais bonita que a outra!
    Também achei que a maior lição que o personagem "A" nos deixou foi a coragem de fazer o certo mesmo que pra isso ele tivesse que abrir mão do que sentia !
    Muito muito bom !

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  2. Eu quero muito ler esse livro! Já li alguns livros do David Levithan e é sempre uma narrativa maravilhosa e muito original.

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  3. Não consegui me apaixonar pela narrativa do livro, apesar da ótima ideia do autor, ele caiu em mta coisa clichê e voltou à coisa que já lemos aí. O que destaco são algumas vidas que ele passa que falam de coisas tristes, mas infelizmente ele não evoluiu nisso e ficou no romancinho chato =/

    Andy_Mon Petit Poison

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  4. Achei linda a mensagem do livro e acho que comecei bem, pois foi minha primeira leitura do David. É um enredo muito envolvente, sem dúvida uma leitura maravilhosa, adorei!
    E essa capa? Não consigo não babar por ela rs

    Bjs,
    Kel
    www.itcultura.com.br

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